Minhas filhas estão no mar, fim de tarde, a mais velha deita na espuma como se fosse um cobertor de pena de ganso, a mais nova sorri de olhos fechados, sentada no oceano agradecendo como um Buda - se bem conheço ela, cantava naquele momento. E aqui está o detalhe: eu não sei se ela estava cantando porque eu não estava lá. Minha esposa tirou essa foto. Eu tinha ficado na cidade trabalhando.
Essa foto mudou a minha vida. Foi a gota d’água para um movimento que eu já queria fazer há tempos.
Quando as fotos daquele dia chegaram no meu celular, todas imagens mágicas, céu colorido e mar azul, as meninas brincando, rindo, andando de bicicleta, caminhando nas trilhas, foi como se uma chave virasse dentro de mim. Basta.
A vida não teria sentido se eu apenas trabalhasse e não estivesse lá com elas, vendo-as crescer. Não teria sentido sonhar em ser pai, formar uma família, se eu não estivesse lá.
Lembro que naquela noite dormi abraçado em dois travesseiros, fingindo que eram minhas meninas. Chorando de saudade.
Durante todo aquele ano, deleguei tarefas, abri mão de promoções, comecei a organizar o escritório para que eu pudesse me ausentar. Comecei a reorganizar minha carreira para que eu tivesse mobilidade, para que no próximo verão eu pudesse estar com minhas filhas na praia. Pra que eu pudesse estar nas fotos. Pra que eu pudesse fazer parte do sonho.
No final daquele ano, viajamos todos juntos. E, no ano seguinte, de novo. E depois nos mudamos de cidade, para ficar ainda mais próximos no dia a dia. Eu as vi crescer em um apartamento antigo e ensolarado, a mais velha na escola pública, nosso carro cheio de problema, mas com ele íamos pra qualquer lugar.
Juntos. Sempre juntos.
Como é bom levar nosso corpo para onde nossa alma está.
A vida é incrível.
Desejo a você muito mais do que sorte.
Marcos Piangers
Isso se conecta com um outro texto seu que li há tempos, sobre os "13 verões". Nunca me esqueci e carrego aquela lição até hoje. Obrigado por compartilhar!
Morrer pelos filhos é fácil. É impulsivo, rápido, quase que não é uma escolha consciente. Quero ver é viver por eles. Ou melhor, escolher viver por eles. Obrigado pelos textos como sempre.